segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Técnico conta como o destino agiu em favor de atleta ex-alcoólatra.

No momento em que Giovani do Santos cruzou a linha de chegada da São Silvestre na quarta colocação, muita gente se surpreendeu com o feito do fundista, até então, pouco conhecido. Mas Henrique Viana, técnico do humilde atleta, sabia do passado dele, acreditava em seu potencial e estava esperando algo semelhante. Fundador e presidente da equipe carioca "Pé de Vento", o médico relata, com detalhes, a meteórica carreira de Giovani, que, há um ano e oito meses, superou o alcoolismo e apostou no atletismo como sua salvação. "Eu estava acompanhando uma corrida da Corpore, em São Paulo, e ele me abordou. Como eu dou atenção a todo mundo, não consegui dizer não e aceitei ouvi-lo. Quando ele falava, eu pensava: 'Poxa, eu já tenho tantos atletas, como vou dizer não a ele?'. Mas ele foi tão sincero, tão súplico, tão esperançoso...", lembrou, sem conseguir esconder o entusiasmo. Djalma Vassão/Gazeta Press Pelo seu passado, Giovani tinha motivos de sobra para festejar na linha de chegada Tempos depois, Henrique concluiria que o 'defeito' de não conseguir disparar negativas às pessoas, enfim, tinha lhe acarretado frutos. O conselheiro da CBat (Confederação Brasileira de Atletismo) anotou o telefone de Giovani e marcou uma avaliação para quando ele fosse a Itamonte (MG), filial da Pé de vento, cuja matriz se encontra em Petrópolis (RJ). "Quando fui lá e fiz o teste, confesso que não vi muita perspectiva nele. Tiveram outros atletas, inclusive, que receberam uma nota maior. Mas as ciências biológicas não são perfeitas como as matemáticas, às quais um mais um sempre dá dois", definiu. "Continuei com o Giovani e sempre que eu ligava para ele correr algumas provas, seja onde for, ele estava de prontidão. Assim, ele passou a crescer muito, sobretudo em 2010", afirmou. Giovani, mesmo com pouca quilometragem, disputou a São Silvestre de 2009 e não decepcionou: terminou no 18º posto, em sua estreia nas ruas paulistanas. A respeito do antigo vício, doutor Henrique enaltece o empenho do 'filho' Giovani em continuar focado na carreira e blindado às recaídas. "Desde o começo, percebi que ele estava querendo um suporte, uma salvação. Ele encarou o atletismo como uma oportunidade de superar o passado", analisou. Apesar do tratamento diferenciado, Viana confidencia que tivera de "cortar as asinhas" do pupilo quando este começou a se destacar. "Ele passou a correr muitas corridas para ganhar R$ 300, 400. Falei para ele que não é assim. Argumentei que sabia das dificuldades dele, mas disse que, lá na frente, ele colheria os resultados. E é o que está acontecendo agora", festejou. Para a edição 2010 da São Silvestre, a grande esperança da Pé de vento (campeã com Ronaldo da Costa em 1994 e com Franck Caldeira em 2006) era Damião Ancelmo de Souza, vencedor da Meia Maratona de São Paulo de 2009 e terceiro lugar na Volta da Pampulha de 2010. No entanto, tanto o atleta quanto Henrique sabiam que, comendo pelas beiradas, o natural da cidade de Natércia (sul de Minas) poderia dar o que falar no dia 31 de dezembro. E não deu outra. "O Damião passou a conviver muito com o Giovani, dava toques, puxava a orelha dele. Em 2010, chegou uma hora em que o Damião veio até mim e falou: 'Doutor Henrique, eu não sei se vou ganhar dele. Vou ter que correr muito. Ele está correndo tanto ou melhor que eu'", revelou. As previsões de Damião estavam certas. Fatigado por uma gripe, o atleta - que fez pódio em todas as 17 provas que disputou em 2010 - não conseguiu seque completar o percurso de 15 km. Contudo pôde prestigiar o sucesso do amigo pessoal, que terminou em quarto e encheu o país de orgulho pela história de superação.

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